O Jogo das Raparigas

O Centro Cultural de Carnide foi o palco do Encontro Local de Lisboa, que decorreu no passado dia 30 de Abril.
As primeiras participantes chegaram logo pelas 9h30m, após uma longa viagem de Torres Vedras e vestidas a rigor com a camisola do projecto!

A partir daí, as convidadas e convidados continuaram a chegar e foi já com o auditório composto que a vice-presidente da Associação Portuguesa Mulheres e Desporto Isabel Cruz, a gestora do projecto Daniela Costa e a coordenadora Inês Neto, abriram o Encontro dando as boas vindas a todas e todos que quiseram fazer parte activa deste momento importante do “Jogo das Raparigas”, afinal de contas, após dois meses de reuniões, a voz das jogadoras ia finalmente ser ouvida. Noventa pessoas ligadas a várias equipas do distrito marcaram presença!



Jogo_das_Raparigas_6Painel 1 - Futebol e Futsal no Distrito de Lisboa: “A Voz das Jogadoras"
· Caracterização das equipas femininas de futebol e futsal no distrito de Lisboa. Cidália Ferreira (Futsal)
· Captação e formação de jogadoras. Maria Martins (Futsal)
· Redução dos custos da prática federada. Carina Costa (Futsal)
· Campeonato Nacional de Futsal. Ana Raquel Dias (Futsal)
· Moderação: Daniela Costa



No primeiro painel, moderado por Daniela Costa, Cidália Ferreira apresentou uma breve caracterização das equipas do distrito de Lisboa, sendo depois seguida de Maria Martins que reflectiu os problemas da formação, dando especial destaque à importância da escola como espaço privilegiado para incentivar e proporcionar às raparigas a oportunidade de “jogar à bola”. Chegava então a vez de abordar uma questão que tanto afecta os clubes, que é o custo de uma equipa em competição, tema explorado por Carina Costa que fez a comparação de custos de uma equipa de futsal de Lisboa, com uma de Leiria, constatando que existe uma grande discrepância nos valores relacionados com organização de jogo, mas sobretudo com o policiamento que no caso de Leiria não é obrigatório aliviando assim o orçamento das equipas, já que em Lisboa uma equipa da primeira divisão distrital gasta por época cerca de 1100€ apenas com policiamento. Ana Raquel Dias foi depois a voz das atletas de futsal no que diz respeito ao Campeonato Nacional de Futsal, analisando o tema com dados concretos recolhidos nas acções com as equipas, e expondo não só as vantagens, mas também as preocupações que as jogadoras têm e as condições necessárias para que este passo competitivo seja dado.

Durante o debate do primeiro painel, foram várias as pessoas da plateia que quiseram comentar e colocar questões às oradoras, destacando-se a presença e interesse que Estevão Cordovil (membro da equipa técnica da equipa masculina de futsal do “Os Belenenses”) demonstrou, comentando e colocando questões a cada uma das oradoras que mostraram pelas suas respostas que o elevado investimento que colocaram na preparação dos seus temas.
Painel 2 – (In)Visibilidade




· Mariana Cabral (Futebol)
· Marisa Roque (Futsal)
· Rita Martins (Futsal)
· Dinamizadora: Francisca Chaves (Futsal)

Após o intervalo, chegou o momento de abordar o tema da (In)Visibilidade, moderado por Francisca Chaves. Mariana Cabral começou por falar da dificuldade que sente e vê nos bastidores dos meios de comunicação social onde se movimenta, reflectindo que um dos maiores obstáculos é o desconhecimento por parte dos jornalistas pelo que se passa nas competições femininas de futebol e futsal e lançando a sugestão de criação de departamentos de comunicação em cada clube que divulguem a actividade do clube. Seguiu-se então Rita Martins, jogadora e gestora de eventos desportivos que abordou a importância do marketing na contribuição para o aumento da visibilidade não só das modalidades mas também das atletas, destacando o papel das marcas como parceiros importantes. Por fim, Marisa Roque trouxe-nos exemplos de boas práticas de visibilidade, focando sobretudo as novas tecnologias ao serviço da divulgação de equipas. Marisa enalteceu o caso do C.R.C.Quinta dos Lombos, descrevendo o trabalho necessário para manter actualizado o blogue do clube, o que traz visitantes fieis ao blogue, como ficou patente nos dados estatísticos apresentados. A sua apresentação foi finalizada com recortes de jornais antigos em que as mulheres figuravam nas capas dos desportivos em contraste com excertos recentes de breves linhas no final do jornal, e com a interrogação do que teria acontecido para em vez de ter ocorrido evolução, tenha acontecido precisamente o contrário…porque é que as mulheres perderam destaque nos media? No debate, Adelaide Almeida, actual treinadora que como jogadora integrou a primeira selecção nacional de futebol, destacou a culpa da Federação Portuguesa de Futebol que durante anos fez cessar a actividade da selecção nacional de futebol, o que quebrou a visibilidade que as mulheres tinham nos jornais.



Jogo_das_Raparigas_4Painel 3 – Ultrapassar as Barreiras Culturais: Passado, Presente e Futuro
· Vera Bettencourt (Futsal)
· Matilde Fidalgo (Futebol)
· Dinamizadora: Ana Pontes (Futebol)

O último painel contou com três gerações de jogadoras que reflectiram a evolução das barreiras culturais, dando destaque à imagem que a sociedade tem da jogadora. A internacional sub-19 de futebol Matilde Fidalgo considera-se uma privilegiada quando ouve as histórias das colegas mais antigas, considerando que actualmente as jogadoras têm mais apoio. Ana Raquel referiu que no inicio da prática, foi com os rapazes da família que começou a jogar e que talvez por isso tenha tido sempre mais aceitação por parte da família. Vera Bettencourt, ex-jogadora e actualmente a única mulher a treinar uma equipa de seniores masculinos de futsal em Portugal, reforçou o grave problema de visibilidade que as mulheres têm e que ela própria sentiu nas suas conquistas como jogadora e treinadora de equipas femininas, mas que ao chegar ao futsal masculino o panorama se alterou ao ser logo alvo de reportagens de jornais e de televisão graças à curiosidade de uma mulher orientar homens…e apenas por isso, não sendo destacado o seu sucesso e competência. Ana Pontes moderou este painel, dando espaço às participantes para interagirem com o público, tendo ficado como última mensagem, a importância de cada uma na modificação da imagem que a sociedade tem da jogadora de futebol e de futsal, e no consequente aumento da visibilidade. Todas e todos concluíram que a imagem ultrapassada de que a mulher que joga tem um aspecto desleixado e pouco feminino resulta do desconhecimento, e que apesar de não corresponder à realidade, não contribui para o desenvolvimento das modalidades em causa, sendo responsabilidade de todas e todos mudar este ponto.

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O Encontro foi então encerrado por Daniela Costa e Inês Neto, tendo sido reforçadas as propostas das jogadoras:

- As autarquias devem promover a integração de equipas femininas nos torneios locais e comemorativos, e de equipas mistas nos escalões etários mais baixos;

- As escolas devem incentivar actividades “para todos” (ver exemplo “Mini-Fut”); implementando a obrigatoriedade de equipas mistas de Futsal no escalão de infantis do Desporto Escolar;

- A criação de enquadramento competitivo no Futsal para o escalão de Juvenis, através de convívios regulares e sistemáticos entre equipas do Desporto Escolar e de Clubes;

- A consolidação dos quadros competitivos das equipas juniores com a obrigatoriedade das equipas seniores da I Divisão Distrital de Lisboa de Futsal terem uma equipa júnior em competição;

- Adopção por parte da Associação Futebol de Lisboa de um modelo semelhante ao de Leiria no que diz respeito ao policiamento, sendo os clubes visitados responsáveis pela manutenção da segurança, através da figura do Responsável de Segurança;

- Criação de um campeonato nacional de futsal com apoio financeiro da FPF (deslocações; arbitragem; policiamento);

- A criação de departamentos de comunicação nos clubes, que ficam responsáveis por divulgar a actividade das equipas e fazer chegar a informação aos media.



Jogo_das_Raparigas_10Seguiu-se então o almoço-convívio e um Torneio de Matraquilhos num ambiente descontraído com as equipas a serem constituídas por elementos de diferentes clubes.



A equipa do Projecto o Jogo das Raparigas agradece a todas as pessoas que participaram neste Encontro, especialmente às que mais se empenharam na organização do evento e no trabalho de bastidores com as técnicas do projecto: Ana Raquel Dias, Carina Costa e Ana Pontes.



O Encontro Regional irá decorrer no próximo mês de Junho, e contamos nessa altura com a presença de todas e todos! Vamos mobilizar-nos e dizer “Presente”! É a vossa voz que está em jogo!

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