Entrevista com o treinador do Unochapecó Éder Popiolski

Éder Popiolski é um nome que dispensa apresentações, no entanto para os mais distraídos, este é o treinador da formação do Unochapecó/Nilo Tozzo/PMC/Female, que no seu curriculo já conta com vários títulos, como a Taça das Nações, Torneio Internacional de Espinho, Golden Cup, Taça Brasil, Jogos Abertos Brasileiros, Campeonato Catarinense, entre outros. Para além disso, Eder Popiolski, foi o escolhido para orientar a selecção brasileira
O FutsalTotal 19, foi saber um pouco mais sobre este treinador que tem dado muito de si ao futsal feminino


FutsalTotal 19 - Há quantos anos trabalha com Futsal Feminino?


Éder Popiolski - Atuo na modalidade como treinador desde 2000, quando iniciamos um projeto no Popiolski Futebol Clube, antecessera da Female Futsal, que visava a melhoria da competitividade.

F.T.19 - Tens algum treinador como referência?

Éder Popiolski - Vários treinadores contribuíram e continuam a colaborar com minha formação. No futsal, destaco PC de Oliveira, Fernando Ferretti, Ricardo Lucena e Miltinho. Também, gosto muito de outros esportes, sendo admirador de Bernardinho (voleibol), José Mourinho (Futebol) e Phil Jackson (Basquete). A lista poderia ser maior, contudo esses merecem destaque.

F.T.19- Não preferia ser treinador de uma equipa masculina onde teria mais visibilidade?

Éder Popiolski - Iniciei minha carreira de treinador no feminino e acabei criando um vínculo afetivo neste ambiente. Creio, perfeitamente, que poderia atuar com equipes masculinas, mas até o momento não apareceu uma oportunidade melhor do que onde estou. Não somente a questão da visibilidade estaria envolvido numa mudança, seria preciso me encantar em vários aspectos. Por enquanto isso não aconteceu e sigo feliz com o desafio de contribuir com a melhoria competitiva do futsal feminino.

F.T.19 - Como é trabalhar com estas jogadoras?

Éder Popiolski - É desafiante! Temos um ótimo grupo de jogadoras, todas muito jovens e dedicadas. Criamos uma relação de muita confiança, o que ajuda no processo de treinamento e, logicamente, para a evolução técnica. Aprendo com elas e procuro desafiá-las a pensar muito sobre o jogo. Acho que estamos conseguindo conquistas expressivas por contarmos com atletas que se tornam altamente competitivas pois são sedentas por inovações. Sinto-me satisfeito em liderar esse processo.

F.T.19 - Sente mais responsabilidade por ser uma referência no futsal?

Éder Popiolski - Uma equipa não é nada sem as outras. Todas, de qualquer escalão, podem influenciar no desenvolvimento do futsal feminino. Somos, neste momento, uma referência pelos campeonatos conquistados e, com isso, podemos até chamar mais a atenção. Contudo, nossa responsabilidade não é maior do que antes, pois temos clareza do que nos impulsionou para os resultados. Nesta perspectiva, nossa responsabilidade está na continuidade do inconformismo, na busca do algo a mais, na preparação contra as dificuldades... Estamos crescendo e outras equipas também. Para o bem do nosso esporte.

F.T.19 - Quais as competições que disputam durante a época?

Éder Popiolski - No Brasil não há uma competição que dure muito tempo e, então, disputamos vários campeonatos durante a temporada. Dividimos em torneios estaduais (regional ou distrital) e nacionais. Dentro de Santa Catarina disputamos três competições: Campeonato Catarinense, Jogos Abertos de Santa Catarina e Jogos Universitários Catarinenses. Em nível brasileiro há a Liga Futsal Feminina, Taça Brasil, Jogos Abertos Brasileiros e Jogos Universitários Brasileiros. Em 2009 e 2010 conseguimos incrementar nosso calendário com torneios internacionais em Portugal. Nosso projeto também trata de categorias menores, nessas disputamos várias competições regionais.

F.T.19 - As atletas seniores são profissionais?


Éder Popiolski - Nossas atletas dividem o tempo com os treinamentos e estudos. Todas recebem auxílio financeiro, bolsa de estudo, moradia, alimentação e plano de saúde. Contudo, não são consideradas profissionais porque não há formalidade trabalhista. Estamos nos aproximando deste estágio e acredito que num futuro não muito distante isso seja uma realidade.

F.T.19 - Os treinos integram a componente física e técnico-táctica, ou trabalha a parte física isoladamente?

Éder Popiolski - Dependendo do ciclo do treinamento, os treinos podem ser integrados, específicos ou híbridos. Geralmente, utilizamos os três métodos numa mesma semana, variando a quantidade de sessões. Chamamos de integrado uma sessão de treino que contempla o trabalho técnico-tático com uma exigência física pré-estabelecida. O treino específico acontece para trabalhar certa valência física ou situação técnica-tática do jogo (faltas, escanteios, etc...). E, o treino híbrido faz referencia ao treinamento físico e, em seguida, um treino técnico-tático, ou vice-versa. Nesta temporada estamos utilizando, também, treinos preventivos, no sentido de reduzir a incidência de lesões. São sessões específicas, geralmente após um treino técnico-tático leve, comandada pela fisioterapeuta. Vale destacar a importância de dimensionar adequadamente as cargas de trabalho do treinamento: treinar mais pode não significar qualidade.

F.T.19 - Comparando com o masculino, acha que as mulheres são melhores a nível técnico-táctico, ou não se pode comparar?

Éder Popiolski - Creio que não há como comparar. Minha maneira de atuar leva em consideração o estágio da atleta e da equipe no momento. A partir daí, cabe ao treinador elaborar um plano de treinamentos que possibilite a atleta e a equipe a avançar. Portanto, não é o gênero que vai definir onde se pode chegar. Fazer o jogador ser melhor do que ele mesmo ou fazer que a jogadora seja melhor ela mesma, independente de qualquer estágio, deve ser o objetivo do treinador.

F.T.19 - Como se faz para continuar a motivar jogadoras que estão habituadas a vencer?

Éder Popiolski - Elas adoram futsal e curtem muito o treinamento. A sensação de melhorar continuamente é a nossa satisfação. Podemos perder jogos e competições, mas nunca a vontade de jogar. Sinto isso nelas e nas pessoas com quem trabalho. A força da motivação vem de dentro.

F.T.19 - Em Portugal ainda não existe um campeonato nacional e as equipas tem poucos apoios a nível financeiro. Como é no Brasil, sente que as equipas são mais apoiadas, ou é exactamente o contrário?

Éder Popiolski - Acredito que o futsal feminino brasileiro tem mais apoio do que em Portugal. Contudo, ainda carecemos de maior investimento. O Brasil é um país continental e as competições nacionais se tornam caras. Por isso, nossos certames são disputados de forma rápida. Precisaríamos de maior visibilidade para melhorar as condições. Sinto que falta um plano estratégico para a modalidade entrar na mídia de massa (TV). O fato positivo do caso brasileiro é a participação das universidades nos projetos dos principais clubes de futsal feminino. Isso está fazendo a atleta permanecer por mais tempo na modalidade.

F.T.19 - Falando agora do mundial Universitário, o que sentiu quando soube que iria ser o comandante da selecção?


Éder Popiolski - Fiquei feliz pela indicação. É sinal de reconhecimento pelos anos investidos na modalidade. Trabalho de forma séria e procuro colaborar para o crescimento das atletas que comando. Certamente, fico muito mais feliz quando elas são convocadas. Nesta minha convocação, senti esse sentimento nelas. Tenho uma oportunidade pela frente e vou procurar retribuir a confiança com muito trabalho e dedicação.

F.T.19 - Quais são os objectivos para este mundial universitário?

Éder Popiolski - O título é importante, até porque somos os atuais campeões. Contudo, teremos pouco tempo de preparação antes da competição. Entre treinos e jogos ficaremos 15 dias juntos. Por isso, o desafio será construir uma equipa com elos de ligação. As atletas são de ótimo nível, o que deverá tornar menos difícil a tarefa.

F.T.19 - Com jogadoras de tanta qualidade, não acha que já era tempo de haver uma competição de selecções organizada pela FIFA?

Éder Popiolski - Com certeza! Os clubes estão, dentro das possibilidades, realizando trabalhos sérios e propiciando belas partidas. As Federações Nacionais já promovem competições e contam com contingente cada vez maior de clubes e de jogadoras. A base para realizar um mundial já existe e seria, sem dúvidas, estrategicamente importante para a divulgação do futsal feminino.

F.T.19 - Tem alguma mensagem de incentivo que queira deixar aos leitores do FutsalTotal19 e a todos os amantes do futsal?


Éder Popiolski - Nestes anos militando no esporte, sinto que o futsal feminino se estabelece por vontade própria. Estamos crescendo mesmo sem grandes apoios. O importante é que não deixemos apagar essa chama. Faça futsal pelo prazer sempre, independente das condições oferecidas. Também, é necessário continuar lutando por dias melhores e fazer valer a nossa representatividade. Não somos poucos e merecemos mais atenção das autoridades.
Foi um prazer responder esses questionamentos e participar desse espaço de informações. Parabéns à FutsalTotal19!

Para nós, FutsalTotal 19, foi um previlégio poder contar com uma participação nesse nosso, vosso espaço de alguém tão importante e empenhado na evolução do futsal feminino como o "mister" Popiolski. Desde já agradecemos a sua disponibilidade em colaborar conosco. Parabéns pelo trabalho que tem desenvolvido.

Sem comentários: